sexta-feira, 7 de novembro de 2008

carta para um ex-amigo

Caríssimo Davi, 13/05/05

Talvez esteja escrevendo porque hoje é sexta-feira treze e acordei
com um gosto de vazio na boca...Ontem à noite descobri uma verdade
clara sobre mim: minha epiderme é fina demais e pelo jeito não tenho
nem a "endo" nem a hipoderme...Ou seja, ando sempre com os nervos à
flor da pele...
No ônibus sentia o vento bater no meu corpo e as lágrimas vinham
automaticamente de tão sensível que estou. É, deve ser por isso que
sempre sinto tudo com tanta intensidade! Que vejo tudo com tantas
cores e posso chorar só de olhar a lua! Isso, e também o gostoso toque
da chuva na minha pele são o lado bom desta sensibilidade que machuca
demais.
Machuca porque ando por aí totalmente sem proteção, praticamente
em carne viva que expõe meus nervos e me fazem cócegas...Tudo na vida,
para mim, é intenso. Tudo sinto com o mais profundo do que sou e isso
porque não tenho superfície (epiderme), a minha profundidade está
sempre à mostra.
Não consigo disfarçar o rosto. Minhas expressões sempre me
condenam e se me calo, meus olhos tomam a palavra, falam por mim e
deixam claro o quanto há em mim de tristeza ou contentamento.
Ontem, não sei por qual junção de fatores, estava me sentindo
fraca por causa da minha sensibilidade e o engraçado é que sempre foi
o contrário...Minha força sempre esteve em não ter medo da dor,
porque, afinal, até o vento doía em mim mesmo!
A dor sempre me foi uma possibilidade porque neste mundo parece
mesmo não haver outro fim para quem tão facilmente se esquece de si
para sentir algo, para viver o que vem de fora.
O único tipo de proteção que tenho são band-aids, mas
infelizmente, por uma questão estética e econômica não posso sair por
aí com o corpo coberto com eles....Acabo colocando esses adesivos
apenas sobre as feridas que se abrem vez ou outra...
Então minha força talvez esteja nas feridas! Porque só quando elas
aparecem posso cobrir uma parte exposta do corpo, tampar um pouco os
nervos, me proteger como com um escudo.
Acho que foi isso que aconteceu quando as coisas não deram certo
com o G: taquei um curativo bem grande e esqueci tudo. Mas, o
problema é que (como você bem sabe) o tempo, o próprio corpo (suor),
a natureza (chuva), ou a civilização (chuveiro), acabam me livrando da
bandagem que, uma vez descoberta, mostra que a ferida foi totalmente
curada e nem ao menos deixou cicatriz (para que fosse para sempre
lembrada). Mas, indo embora o band-aid vai também junto a minha "capa"
protetora de nervos...Talvez isso tenha acontecido ontem na festa. Meu
band-aid caiu e o vento doeu demais no corpo!
Resultado: Fui dormir triste e pensando em providenciar
urgentemente uma roupa de couro...

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